segunda-feira, 15 de junho de 2009

Documentário retrata o dia-a-dia das pessoas que fazem a indústria de filmes pornô funcionar

Belladonna é casada, tem uma filha e sonha em viver numa comunidade hippie. Cabeça raspada, tatuagens, ela não combina com a loura siliconada que se espera de uma estrela da indústria pornô. E é seu marido quem dirige os filmes protagonizados por ela, assim como ocorre com o casal Otto e Audrey - só que, neste caso, ele também atua nas produções, não necessariamente ao lado da mulher. Eles são alguns dos personagens que o diretor alemão Jens Hoffmann e a produtora brasileira Cleonice Comino encontraram em San Fernando Valley, na Califórnia, e acompanham durante um ano e meio no documentário "O dia-a-dia do pornô" ("9 to 5: Days in porn"), que será exibido neste sábado, no Cine Palácio 2, às 16h e às 20h10m.

- Amo documentários e acho que eles são um ótimo meio de aprofundar assuntos que estão na superfície. Há muitos clichês do que seria um ator pornô e, depois que conheci um, vi que eles estavam completamente equivocados - diz Hoffmann, no Rio para apresentar o filme. - Há dezenas de produções sobre a indústria pornô, mas ninguém nunca realmente ouviu essas pessoas. Minha surpresa foi encontrar tantos personagens interessantes.

Unidos pelo "desejo de normalidade"

" Há muitos clichês do que seria um ator pornô e, depois que conheci um, vi que eles estavam completamente equivocados "

O filme fala dos números: a indústria americana de filmes pornôs movimenta cerca de US$ 12 bilhões por ano, e um filme de sucesso pode vender até dez mil DVDs por mês. Mas o foco do documentário está mesmo na vida das pessoas por trás da indústria. Em comum, todos os retratados buscam lidar com o trabalho da forma mais profissional possível, separando-o da "vida real".

- Para alguns é duro, para outros é um trabalho comum. Mas o que une todos eles é o desejo de normalidade - afirma o diretor.

Da mesma forma, o filme busca um tom sem extremos de glamourização ou decadência, ainda que esboce ilusões, como a de Mia Rose, atriz pornô de 18 anos que diz idolatrar sexo e amar sua vida, mas se vê completamente só; e a de Audrey, que nem sempre parece exultante, apesar de ter um maquiador só para si. Esse tom exigiu que o documentário fosse uma produção totalmente independente.

Cena do filme 'O dia-a-dia do pornô'. Foto Divulgação

- Tivemos muitas ofertas de patrocínio, mas sempre nos impunham condições, como a de encontrar uma atriz russa vitimada. Ninguém queria ver pessoas felizes - conta Hoffmann, que sentiu o preconceito durante a produção. - Precisamos explicar o tempo todo que não estávamos fazendo um filme pornô.

Para ganhar a confiança dos personagens e interferir minimamente nas cenas, Hoffmann comandou duas câmeras, e Cleonice, além de produzir, aprendeu a gravar o som. Os dois passaram um ano e meio pesquisando, outros 18 meses filmando e quase um ano editando o material. Hoffmann diz que uma das decisões mais difíceis foi sobre o quanto de sexo deveria haver no filme:

- Não queríamos nada que fosse voyeurismo ou que deixasse o espectador com tesão. Mas o sexo, no filme, é importante para se acompanhar a história dos personagens e não poderia deixar de existir num filme sobre a indústria pornô.

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